• Mike Segar/Reuters
Os investidores da Apple estão assustados: embora 2015 tenha sido um ano vigoroso, algo peculiar aconteceu neste mês: o preço da ação da Apple caiu para menos de US$ 100 (R$ 410) pela primeira vez desde outubro de 2014.
Há muitos rumores no ar, mas é nesta terça-feira que realmente saberemos se 2016 será um ano difícil para a gigante da tecnologia – é nesta terça que devem ser divulgados dados de seu desempenho recente e expectativas para os próximos meses.
É nesse momento que a companhia apresenta suas preocupações, os problemas que mantêm seus executivos acordados à noite (ou ao menos estressados nas salas de reuniões).
Investidores aflitos temem que a Apple diga o seguinte: pela primeira vez, as vendas do iPhone estão caindo.
Sim, caindo. As vendas do iPhone.

A busca por novos negócios

De acordo com os últimos números revelados pela Apple – que são de outubro -, as vendas do iPhone são responsáveis por 63% de todo o faturamento da empresa. E partir dele, aliás, é que as pessoas compram apps, assinam o serviço de streaming de música Apple Music e fazem uma série de coisas que também impactam na saúde financeira da empresa.
Os outros produtos da companhia nem chegam perto disso. A família Mac, de computadores e notebooks, se saiu bem diante de um grande declínio vivido pela indústria da qual faz parte – mas representa apenas 13%.
Já o grupo iPad é responsável por 8% – embora deva ganhar um impulso com o recente lançamento da nova linha iPad Pro, que, focada no mercado de empresas, vem com um teclado e uma caneta para escrever na tela do tablet.
A maior aposta recente é o Apple Watch. Ainda não está claro o quão bem-sucedido o relógio tem sido, uma vez que suas vendas são incluídas dentro da categoria “outros”, na qual estão ainda ainda o tocador de música iPod, os fones de ouvido Beats e vários outros produtos.
Juntos, os eletrônicos da categoria “outros” respondem por apenas 6% do total faturado pela empresa.
O relógio provavelmente teve uma boa performance no Natal, e daí a Apple talvez comece a jogar uma luz sobre como tem sido seu desempenho. Mas vamos ter de esperar para ver.
Enquanto isso, a dependência do iPhone é o que mais preocupa os investidores.
A Apple se beneficia há anos de um comportamento conhecido como “consumo repetido”: os dados mostram que as pessoas que têm o smartphone tendem a trocá-lo por um modelo mais novo dele em vez de ir para outras marcas, como Samsung e Motorola.
O problema é que a Apple já vê um teto no horizonte quando se trata da atração de novos clientes.

‘Apostaram tudo’

Por isso a China é tão importante.
A Apple faz mais dinheiro no gigante asiático do que em toda a Europa, e, pelo que tudo indica, até os Estados Unidos devem ser ultrapassados em breve.
“Se a China cai, a Apple cai também”, afirmou Daniel Ives, da empresa FBR Capital Markets, investidor da Apple.
“Eles realmente apostaram tudo na oportunidade gerada pelo crescimento da China.”
Quase todos os ganhos da Apple no ano passado ocorreram graças à expansão chinesa – novas lojas e novos consumidores que, até muito recentemente, tinham de lidar com cópias baratas e mal feitas de um produto desejado.
Mas a instabilidade da economia chinesa abalou os mercados globais. E se o desempenho do país continuar caindo, talvez fique difícil para a Apple manter seu crescimento a longo prazo.
Para a maioria dos investidores e analistas, porém, a China não representa um problema – ao menos ainda -, e provavelmente continuará oferecendo oportunidades de expansão para a Apple ao longo de 2016.
Um exemplo disso: hoje, há apenas 30 lojas da Apple no país; só no Estado americano da Califórnia são 53.
Dados sugerem que o alvo principal da companhia no gigante asiático, a classe média, ainda está esvaziando seus bolsos sem remorsos – particularmente quando trata-se de comprar produtos da Apple.

Prevendo o futuro

Tentar prever o futuro da Apple é um hábito perigoso. Isso raramente acaba bem – pergunte ao Steve “o-iPhone-não-é-uma-boa-máquina-de-emails” Ballmer, ao ex-chefe da Microsoft. E a todos na Blackberry. E na Nokia.
Mas nós podemos especular, e aqui está um resumo do que investidores e analisas acreditam que possa acontecer neste ano:
– O iPhone 7 será lançado — possivelmente sem uma entrada para fone de ouvido — e dará à linha de smartphones um grande impulso nas vendas (e talvez na dos fones de ouvido também).
– Um novo iPhone mais “acessível” — chamado “5E” irá conquistar o mundo em desenvolvimento. Ele deve ser um produto principal para mercados como a Índia, onde a empresa também tem investido na abertura de lojas próprias.
– A China vai se tornar ainda mais importante e mostrar um pequeno sinal de desaceleração, pelo menos de acordo com as preocupações da Apple. Uma grande aquisição proporcionará à empresa uma rota expressa para uma nova área de atuação. O investidor Daniel Ives afirmou à BBC que comprar a Netflix, por exemplo, deixaria “Wall Street muito animada”.

Na estrada

E há um mundo que pode fazer as ações da Apple dispararem em um instante: o de automóveis.
Nos últimos seis meses, rumores de que a Apple está produzindo um carro passaram de murmúrios a gritos.
Alguns apostam que a empresa produzirá um carro próprio, outros dizem que ela deveria trabalhar com a indústria automobilística já existente para integrar seu software – algo que já está acontecendo com a CarPlay, uma espécie de versão simplificada do sistema operacional iOS, desenvolvida para o uso dos motoristas.
“Isso sempre volta para a questão de se eles podem lançar algo tão poderoso quanto o iPhone”, afirma Carolina Milanesi, analista da Kantar Worldpanel ComTech, consultoria especializada no setor de tecnologia.
“E eu não sei se isso nos fará esperar até que o carro saia.”
Mas ela logo acrescenta: “Não acho que os investidores um dia estarão felizes com a Apple. Porque se eles podem fazer 10, querem 11. Se podem fazer 11, querem 12.”

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